terça-feira, 11 de maio de 2010

Eu vi Jesus no chuveiro

Não, a sério, eu vi Jesus no chuveiro. Há cerca de uma hora estava a tomar banho e ao salpicar água para a cortina, formou-se a distinta figura de Jesus! Barba, cabelo comprido, tudo! E estava assim a olhar a ¾, via-se bem pela risca do cabelo, como toda a gente sabe, Jesus usa risca ao meio. E pela direcção da cara, estava a olhar directamente para mim.
A princípio não me incomodou, quer dizer, era Jesus, mas depois fiquei a pensar que aquilo era um bocado estranho. É que, como penso que a maioria fará, eu não uso roupa no banho. E fiquei a pensar, será que Jesus aparece a mais mulheres quando elas estão a tomar banho? Se mais alguma de vocês viu Jesus no banho, por favor que me avise e se calhar é melhor começarmos a pensar em fazer uma queixa (a quem? Ao paizinho dele, claro). Caso contrário, eu não sei o que ele estava lá a fazer. Eu não sou Maria, o resto, muito menos, nem baptizada nem crente.
Depois tive outra epifania: Anda aí o Papa! Pisou solo nacional às 11h07, salvo erro. Deve ter dado o tradicional chocho no alcatrão da pista (provavelmente ajoelhado nalguma colcha bordada a ouro), abençoando-nos assim a todos, queiramos ou não. Ora, não pode ser coincidência que eu veja Jesus no dia em que o BXVI chega cá.
E então é que me ocorreu: é a minha quota! Quota de quê, perguntam, e eu passo a explicar: eu sou licenciada desempregada e um bom exemplo da miséria que vai neste país, país este que acabou de gastar não-sei-quantos milhões na vinda do Papa. Como nem o Estado nem a Igreja tiram nada a ninguém, o homem recebe o tratamento presidencial (ou papal, que ainda deve ser melhor) mas abençoa-nos em troca. Já que dinheiro está mau e emprego ainda pior, recebemos em iluminações divinas. Eu já vi Jesus, aposto que amanhã vai haver relatos de quem tenha visto a Nossa Senhora (a normal e a de Fátima), o S. João e o Sto António (consoante esteja mais a Norte ou mais a Sul), os 3 pastorinhos, o Dr. Sousa Martins e até mais Jesus.
Só espero que não seja no banho, que eu aí vou ficar preocupada.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Como a maioria já sabe, eu escrevi uma resposta ao artigo de opinião de uma jornalista, que, de certeza por lapso ou mau funcionamento "das internetes", não foi aceite no blog dela. Assim sendo deixo aqui a dita resposta para quem a quiser ler.



Cara senhora,

Confesso que quando hoje o meu caro amigo Leonardo B. me pediu autorização para usar uma fotografia minha num post que pôs no seu blog, eu fiquei cheia de curiosidade para saber porque uma fotografiazita amadora das minhas merecia ter tal uso. Neste momento acho que é porque eu posso ser considerada gótica e o nome com que assino as minhas fotos soa a algo muito “dark”, embora eu (que o escolhi) diga que tem mais a ver com Darwin do que com Bram Stoker.

No entanto tb lhe posso dizer que sou licenciada, tenho uns quantos cursos de formação profissionall, faço Ioga e Reiki, e tenho uma gata – atenção – que não é preta!

O problema de pôr o mesmo rótulo a toda a gente que se veste de preto é que há mais espécies de góticos do que de formigas e acredite, há muitas espécies de formigas. Veja lá que até há formigas-feiticeiras (devem ser góticas). Poucos “góticos” gostam desse epíteto exactamente por causa das generalizações, daí a expressão que usamos cá pelo Porto “Góticos são os arcos da Sé”. Eu,por exemplo, já fui chamada de “corporate goth”, que são aqueles que conseguem disfarçar qualquer coisinha “gótica” no meio da roupa de trabalho, no entanto, poucas das pessoas com quem trabalhei me identificariam como tal, até porque duvido que me contratassem para certos cargos que já ocupei, se fosse vestida com roupa normalmente associada com “góticos”.

Outro fenómeno curioso é que em Lisboa e arredores os “góticos” são associados a ideais políticos de Direita, enquanto no Porto são maioritariamente de Esquerda, o que também dá uma confusão terrível quando nos tentam “etiquetar” em termos políticos.

Embora haja uma fundo estético comum aos ditos góticos, são tão iguais uns aos outros como qualquer outro grupo sujeito a estereótipos. Que o diga a minha amiga Lylia, muçulmana convicta e muito amiga das suas mini-saias e de partilhar com o mundo o seu lindo cabelo pintado de louro. Se há algumas pessoas que se vestem de preto que resolvem ser infelizes, o problema é delas, mas posso dizer-lhe que pela minha observação isso acontece em gente muito nova, que está a mudar o seu estatuto na sociedade e a ser empurrada para decisões que vão decidir o seu futuro e não sabem como lidar com essa pressão. No meu tempo chamava-se adolescência e dava a toda a gente independentemente da preferência cromática.

Analisando o seu artigo mais em pormenor, devo dizer que não duvido que nas suas pesquisas tenha encontrado páginas pretas, agora mais vírus que em outros sítios, acho muito estranho, se calhar é o anti-vírus que não é grande coisa. O meu computador já tem uns aninhos, já viu muitas páginas pretas e ainda está funcional.

Enfrentar pesadelos não me parece assim muito mau, acho que é bom enfrentarmos os nossos medos, embora tenha um que me recuso a enfrentar, a não ser munida de um grande aspirador ou da minha mãe com o seu fantástico chinelo: aranhas! (Mas esperem, as aranhas não são uma das coqueluches dos góticos? Como posso eu ter medo de aranhas se sou gótica? Oh porque é que a vida tem que ser tão enigmática? A escuridão abate-se sobre a minha alma...)

Gosto e dormir de porta fechada, sim. Porque o meu quarto fica em frente à porta do corredor que é de vidro e onde passa toda a gente e se eu não fechar a porta não durmo com a luz e com o barulho. Mas porquê? Os “não-góticos” dormem de porta aberta? Nunca tinha ouvido essa. Barulhos estranhos debaixo da cama normalmente são culpa da gata (aquela que não é preta) e não gosto particularmente, principalmente se me acordarem.

Não tenho esqueletos no quarto. Nem dentro do armário. Quanto a peluches, encontro um cão, dois coelhos, dois morcegos (são da Nici, dêem-me um desconto) e um diabo, mas aí temos outro problema. O diabo em questão segura um coração que diz “I love you”, logo estou outra vez baralhada. É gótico ou não é gótico? Satânico, talvez.

O meu primeiro pensamento quando li o seu artigo foi pedir à minha mãe que lhe escrevesse uma resposta, mas depois de a encontrar a fazer uma fantástica torta de chocolate desisti da ideia. Convenhamos, há prioridades. No entanto pedi que me confirmasse uma ideia que eu cá tinha: a minha mãe não tem medo dos meus amigos, aliás até gosta bastante deles. E não precisa de nos seguir para nenhum lado porque é convidada várias vezes para sair connosco, ela é que não é muito dada a saídas. Nem me parece particularmente assustada quando me entrou pelo quarto dentro há cinco minutos e disse “Ouve lá, mas tu ficaste ou não de levar a reciclagem?”. É certo que a minha mãe já teve que se afligir com depressões da minha parte, mas teve o bom senso de as associar a mortes e doenças de pessoas chegadas e dificuldades escolares, e não na roupa preta.

Já agora, pesquisei no Google o nome Inês Pereira e fui ter ao site de um cabeleireiro. Portanto vou partir do príncípio que a amiga é cabeleireira e até começou recentemente a fazer tatuagens. Pois... Como a maioria das pessoas sabem (ou deviam saber) a Internet não é fonte infalível de informação, e também gostaria de saber de todos os resultados que o Google lhe deu, quantos é que leu. É que eu só li o primeiro, daí presumir que é cabeleireira.

Apesar de não concordar com o seu ponto de vista desejo-lho felicidades e que os seus filhos abracem a causa que os faça mais felizes. E agora que sabe que há muitos tipos de góticos e nem todos são identificáveis à primeira vista deixo-lhe uma frase do meu querido Conde Patrácula:

“Tenham uma boa noite... Se conseguirem!”


E pronto, lá criei eu um blog. Andava a adiar isto há anos, mas agora que é só pra chatear não resisto. O meu antigo já deve ter ido à vida (era tão lindo) tinha praí dois posts e nunca mais lá fui, tb não me lembro da password. Bem, e agora áquilo para que aqui estamos...